Desmame de medicamento, como faço?

Postado em: 23/04/2025

Essa é uma dúvida muito comum no consultório. Seja por alívio dos sintomas, mudança no tratamento ou mesmo vontade de parar por conta própria, muita gente me pergunta sobre desmame de medicamentos. 

Desmame de medicamento, como faço

E eu entendo: lidar com remédios a longo prazo é algo que levanta muitas questões, inseguranças e, às vezes, uma vontade de “dar um tempo”.

Acontece que interromper um tratamento, mesmo que você esteja se sentindo bem, não é algo que a gente deve decidir sozinho. 

O desmame de medicamentos é um processo que precisa de acompanhamento, orientação, tempo e cuidado. E neste texto, quero conversar com você sobre isso de um jeito bem tranquilo, sem pressa.

Quando pensar no desmame de medicamento?

Essa é uma decisão que parte sempre de uma conversa. Em geral, o desmame de medicamento acontece quando o tratamento já cumpriu sua função ou quando ele precisa ser ajustado. 

Pode acontecer em várias situações: melhora do quadro clínico, efeitos colaterais, troca por outro tipo de medicação ou até mesmo quando identificamos que ele não está mais fazendo sentido.

O que nunca deve acontecer é o desmame por conta própria. Parar de usar um remédio sem avaliação médica pode trazer riscos, inclusive o retorno ou agravamento dos sintomas. O ideal é sempre conversar com seu médico antes de tomar qualquer decisão.

Quais medicamentos exigem desmame?

Nem todo medicamento precisa de um processo de retirada gradual. Mas muitos exigem sim esse cuidado. 

Em neurologia, por exemplo, o desmame de medicamento é comum no caso de anticonvulsivantes, antidepressivos, estabilizadores de humor e alguns tipos de analgésicos.

1. Anticonvulsivantes

Quem tem epilepsia ou outras condições que afetam o sistema nervoso pode, em algum momento, precisar diminuir o uso de anticonvulsivantes

Mas isso só é indicado após um período longo sem crises e com exames favoráveis. O desmame de medicamento, nesse caso, é feito lentamente, respeitando cada fase.

2. Antidepressivos

O uso de antidepressivos costuma ser feito por tempo determinado, mas o desmame também precisa ser planejado. 

Interromper de uma vez pode causar sintomas como tontura, irritabilidade, insônia ou um sentimento de “recaída”. A retirada gradual é importante para o corpo e a mente se ajustarem.

3. Estabilizadores de humor

Usados em condições como transtorno bipolar, os estabilizadores também demandam um desmame bem cuidadoso. 

A retirada abrupta pode causar efeitos indesejados e até risco de novos episódios. Por isso, todo ajuste precisa ser feito junto com o psiquiatra ou neurologista.

4. Analgésicos e outros medicamentos de uso prolongado

Mesmo medicamentos usados para dor ou outros sintomas comuns podem causar dependência ou efeitos rebote quando retirados de forma inadequada. 

Por isso, o desmame de medicamento deve ser planejado mesmo em casos que parecem simples.

Como é feito o desmame de medicamento?

Aqui entra uma parte importante: não existe um único jeito de fazer isso. Cada organismo responde de um jeito, e o desmame de medicamento é feito de forma personalizada. 

Pode ser reduzindo a dose semanalmente, mudando o intervalo entre as doses ou trocando por outra medicação por um tempo.

O mais importante é que seja um processo gradual. Assim, conseguimos observar se surgem sintomas, ajustar a dose com segurança e acompanhar a evolução do paciente sem surpresas. 

O objetivo não é “parar logo”, mas sim fazer isso com tranquilidade e responsabilidade.

No YouTube, gravei um vídeo bem completo explicando sobre o desmame de medicamento. Clique aqui e assista. 

O que você pode sentir durante o desmame?

Dependendo do medicamento e do tempo de uso, é possível que o corpo sinta algumas mudanças. E isso não significa que algo está errado, mas sim que o organismo está se adaptando.

Podem aparecer sintomas como:

  • Tontura
  • Dor de cabeça
  • Alteração no sono
  • Oscilação do humor
  • Ansiedade ou irritabilidade

Esses sintomas são comuns em alguns casos e costumam ser temporários. O segredo é observar, relatar ao médico e seguir com o plano estabelecido. Em muitos casos, não há nenhum sintoma. Cada caso é único.

O papel da escuta e do acompanhamento

Durante o desmame de medicamento, o acompanhamento frequente é essencial. Nenhum processo de retirada deve ser feito sem que a pessoa se sinta segura, ouvida e acolhida. 

A gente precisa entender como você está se sentindo, não apenas medir resultados com exames.

O desmame não é só sobre parar um remédio. É sobre entender um processo de tratamento que teve início, meio e agora um novo momento. 

A forma como você se sente importa. E por isso, a conversa constante com o profissional faz toda a diferença.

Quando o desmame não é indicado?

Existem situações em que manter o medicamento é essencial. Algumas condições neurológicas exigem controle contínuo, e o desmame de medicamento pode não ser uma opção segura naquele momento. 

Às vezes, mesmo com melhora dos sintomas, a retirada pode levar a uma recaída.

Nesses casos, o foco passa a ser o acompanhamento regular e os ajustes que possam tornar o tratamento mais leve, com menos efeitos colaterais e maior qualidade de vida.

Conclusão

O desmame de medicamento é uma etapa do tratamento que merece atenção, cuidado e escuta. Não existe uma receita pronta, mas sim um processo que deve ser construído em conjunto, com responsabilidade e acolhimento.

Se você está pensando em fazer algum desmame, ou já está nesse processo, lembre que você não precisa passar por isso sozinho. 

Compartilhe suas dúvidas e sensações entrando em contato comigo. Cada passo é importante, e estar bem acompanhado faz toda a diferença para que essa transição seja tranquila e segura.

Dra. Camila Hobi
Neurologista
CRM-SP: 128892 | RQE: 34913


O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.